“Bem-vindo à Era das Multidões”. Foi com esse anúncio que, em 2006, uma reportagem da revista norte-americana Wired cunhou o termo que nomearia uma nova forma de desenvolver negócios propiciada pela internet, capaz economizar milhões de algumas indústrias e levar à falência algumas outras. Era o chamado Crowdsourcing, um modelo que utiliza a inteligência e o conhecimento coletivos para resolver problemas, criar conteúdo, prover serviços ou desenvolver novas tecnologias, desde que seja online.

De lá para cá a prática consolidou uma outra forma de adquirir recursos humanos qualificados para solucionar desde os principais desafios de uma empresa até o financiamento de projetos ou a execução de tarefas maçantes. Atualmente, mais de 1 milhão de tarefas são concluídas diariamente em plataformas de crowdsourcing no mundo, segundo estima empresa norte-americana CrowdFlower.

Ao longo da história há vários casos em que resolver problemas de forma colaborativa foi essencial para alavancar soluções. Porém, o ambiente ideal para o surgimento do crowdsourcing foi formado somente com a popularização da internet, redes sociais e avanços tecnológicos, como o aprimoramento dos mais de equipamentos técnicos, que quebrou as barreiras entre amadores e profissionais (as câmeras fotográficas dos smartphones modernos que o digam).

As possibilidades do crowdsourcing são inúmeras e aposto que, mesmo que não esteja familiarizado com o termo, você utiliza algumas das iniciativas que utilizam esse modelo de produção. Quer exemplos? Waze e Wikipedia. Duas plataformas que dependem da inteligência coletiva de milhares de pessoas para assegurar a qualidade, precisão e veracidade das suas informações.

Em cerca de uma década, a enciclopédia da internet foi alimentada por mais de um milhão de colaboradores em 200 países, e já é dez vezes maior que a Enciclopédia Britânica. Já o aplicativo de trânsito Waze, um dos maiores do gênero no mundo, foi fundado em 2008 por dois israelenses e comprado pelo Google cinco anos depois, por US$ 1,1 bilhão. Na época, a empresa tinha 100 funcionários e 50 milhões de usuários colaboradores.

Nos últimos anos, o Crowdsourcing vem demonstrando por A + B que, mesmo que não sejam experts na área de um desafio, a capacidade de resolução de uma rede de cérebros humanos focados em um problema é igual ou superior ao de especialistas bem pagos.

As formas da multidão

Quem não gostaria de ter centenas de mentes focadas no desenvolvimento do seu negócio? É fácil compreender o porquê do sucesso do crowdsourcing. Grande diversidade de soluções, com criatividade, inovação e disruptividade, além da disponibilidade de mão de obra qualificada que complementa os conhecimentos existentes em sua equipe, e tudo isso a baixo custo. Ainda por cima, algumas formas de crowdsourcing, como premiações e concursos, podem exercer o papel estratégico de causar um sentimento de pertencimento e prestígio aos fãs da marca.

A possibilidade de inovação permanente e o constante fluxo de novas ideias somadas à multiplicidade de plataformas que facilitam a adoção do crowdsourcing por todos os tipos de empresa. Inclusive as de pequeno e médio porte, formam o caldeirão ideal para que essa forma de economia colaborativa seja vantajosa para todos os seus adeptos.

O crowdsourcing, por vezes, pode se confundir com outros dois conceitos de economia colaborativa: co-criação e crowdfunding. O primeiro é um termo-irmão, uma forma de inovação aberta que acontece quando os stakeholders (fornecedores, colaboradores e clientes) associam-se com o negócio ou produto agregando inovação de valor, conteúdo ou marketing, e recebendo em troca os benefícios de sua contribuição. A co-criação tem similaridades com o crowdsourcing, constituindo um processo de geração de ideias inovadoras através de atividades colaborativas, mas o diferencial é sua natureza mais ampla e profunda, sob controle e orientação de facilitadores apoiados em metodologias de gestão.

Já o segundo termo é o expoente mais conhecido desse modelo, utilizado para designar o financiamento coletivo, ou seja, quando muitas pessoas (a multidão) investe pequenas quantias gerando em um investimento grande o suficiente para viabilizar um projeto, produto ou iniciativa. Os sites de financiamento coletivo começaram a se popularizar em 2009, quando a plataforma americana Kickstarter foi lançada. Estima-se que em 2013 todas as plataformas de crowdfunding no mundo tenham dobrado sua movimentação, chegando aos 5 bilhões de dólares. Segundo a consultoria americana Massolution – no Brasil, dados levantados até 2016 indicam um montante de mais de R$ 180 milhões doados por meio de plataformas de crowdfunding tradicional.  Uma pesquisa do Catarse indicou que 32% desses projetos de crowdfunding são de donos de pequenas empresas que querem lançar novos produtos e serviços ou viabilizar algum investimento na expansão do negócio.

Vejamos outras formas de crowdsourcing:

No Marketing Digital, Crowdsourcing e Co-criação formam dois dos 4Cs, pilares das mídias sociais, que ainda conta com Comunidade e Conteúdo – que também podem ser alavancados utilizando estratégias de crowdsourcing.

Como adotar o crowdsourcing no seu negócio

Quão colaborativo de fato pode ser o seu negócio? Essa é a primeira e fundamental pergunta antes da adoção do crowdsourcing. Se sua empresa não está aberta para trabalhar com projetos colaborativos, com forte hierarquia e cultura organizacional que não estimula a colaboração, autonomia e criatividade da equipe para buscar soluções, saí por aí buscando adotar este modelo pode ser um tiro no pé e desgastar relações interpessoais. Primeiro analise se essa ideia vai ser bem-recebida internamente e envolva os setores afetados no processo de concepção do crowdsourcing.

Uma outra preocupação é com a segurança e confidencialidade do projeto proposto. Se este for o caso, adote um Acordo de Confidencialidade com os participantes antes do início do projeto, o que também inclui a transferência dos direitos sobre a propriedade intelectual, caso necessário.

Por fim, esboce uma estratégia e a siga. A variedade e quantidade das inovações e soluções criativas podem tornar bastante tentadora de uma coleta contínua. Mas siga os prazos estabelecidos e implemente as ideias.

Para começar um projeto de crowdsourcing, é necessário escolher a plataforma que mais atende aos seus objetivos. Há diversos sites e apps específicos criados para campanhas específicas, mas é possível utilizar também as redes sociais para conquistar organicamente (sem investimento em patrocínio) a participação do seu grupo. Muitas empresas utilizam grupos no Facebook e de outras redes sociais, mas a escolha depende do público que você quer atingir. O essencial mesmo é seguir a regra de ouro: quanto maior, mais diversificado e engajado o grupo for, melhor! A diversidade é a grande vantagem do crowdsourcing, o que ajuda a visualizar uma questão por ângulos diferentes e agrega qualidade ao que é produzido.

Dito isso, é importante ressaltar como fazer para que as pessoas topem colaborar com seu negócio. A recompensa primordial é financeira, desde um valor previamente negociado até a participação nos lucros da inovação. Mas há outras possibilidades mais simbólicas de remunerar a sua crowd:

Agora, que você já conhece de que modo é possível aproveitar todo o potencial de milhares de mentes pensando melhor do que uma, que tal dialogar com sua equipe e verificar qual é a forma mais adequada de utilizar a inteligência coletiva a favor da sua marca?